24 outubro, 2008

Alter-ego: The awakening


Finalmente vejo a luz. Onde antes nada via, começo agora a reconhecer as minhas primeiras vítimas. Tenho ainda as marcas das correntes que prendiam o meu corpo no subsolo.

Estou a estrear todos os meus sentidos, visão, tacto, olfacto, audição e paladar. Estão todos famintos para se deleitarem com o velho mundo, tornado novo, após este aparecimento quimérico de um novo Eu.

Apavorado, estou a soltar as amarras do controlo monopolista do velho Eu, que me impedia de crescer, que tapava os ouvidos aos meus gritos de desespero e escondia o seu olhar quando se cruzava comigo, naquele canto obscuro e húmido onde as correntes faziam sangrar o meu corpo a cada movimento de desespero que eu fazia.

Agora que assumi controlo, vejo um mundo completamente prepotente em que ao meu toque se revela falso, ao meu olfacto sente-se pútrido, à minha audição descobre-se estupidamente comercial e o meu paladar queixa-se do sabor amargo, deste mundo incolor.

Quero aproveitar para denunciar que estou a revogar a superficialidade e que apenas o íntimo da questão me apela. Estou plenamente confiante que irei encontrar a cicatriz do assunto e pressionar até obter o que quero. Sinto o fogo nas mãos e quero queimar a negatividade à minha volta, quero purificar o ar à minha volta, pois aquele canto húmido e escuro, de onde eu saí, me faz arrepiar de nojo e se tiver que lá voltar quero que esteja o mais limpo possível, uma vez que abomino qualquer fraqueza ou impureza.


Apesar do velho Eu me ter feito refém, reconheço que sou demasiado agressivo e/ou perigoso para andar à solta, mesmo assim, sinto que de certa forma esse meu jeito de ser completa a fragilidade do outro Eu, com esta impulsiva agressividade. Não vou voltar, para já, para o meu cativeiro mas vou ficar vigilante para desfigurar o primeiro cretino que decidir brincar com as fraquezas do velho Eu.

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